São Jerônimo

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Fragmento de "Eleonora", de Edgar Allan Poe



Eis as traduções apresentadas pelos participantes deste laboratório. As discussões acontecem neste tópico da nossa comunidade.


Eleonora

(Fragmento)

Edgar Allan Poe


And, here and there, in groves about this grass, like wildernesses of dreams, sprang up fantastic trees, whose tall slender stems stood not upright, but slanted gracefully toward the light that peered at noon-day into the centre of the valley. Their bark was speckled with the vivid alternate splendor of ebony and silver, and was smoother than all save the cheeks of Eleonora; so that, but for the brilliant green of the huge leaves that spread from their summits in long, tremulous lines, dallying with the Zephyrs, one might have fancied them giant serpents of Syria doing homage to their sovereign the Sun.

Hand in hand about this valley, for fifteen years, roamed I with Eleonora before Love entered within our hearts. It was one evening at the close of the third lustrum of her life, and of the fourth of my own, that we sat, locked in each other's embrace, beneath the serpent-like trees, and looked down within the water of the River of Silence at our images therein. We spoke no words during the rest of that sweet day, and our words even upon the morrow were tremulous and few. We had drawn the God Eros from that wave, and now we felt that he had enkindled within us the fiery souls of our forefathers. The passions which had for centuries distinguished our race, came thronging with the fancies for which they had been equally noted, and together breathed a delirious bliss over the Valley of the Many-Colored Grass. A change fell upon all things. Strange, brilliant flowers, star-shaped, burn out upon the trees where no flowers had been known before. The tints of the green carpet deepened; and when, one by one, the white daisies shrank away, there sprang up in place of them, ten by ten of the ruby-red asphodel. And life arose in our paths; for the tall flamingo, hitherto unseen, with all gay glowing birds, flaunted his scarlet plumage before us. The golden and silver fish haunted the river, out of the bosom of which issued, little by little, a murmur that swelled, at length, into a lulling melody more divine than that of the harp of Aeolus-sweeter than all save the voice of Eleonora. And now, too, a voluminous cloud, which we had long watched in the regions of Hesper, floated out thence, all gorgeous in crimson and gold, and settling in peace above us, sank, day by day, lower and lower, until its edges rested upon the tops of the mountains, turning all their dimness into magnificence, and shutting us up, as if forever, within a magic prison-house of grandeur and of glory.









E, aqui e ali, nesse bosque sobre essa relva, como florestas de sonhos, espalham-se fantásticas árvores, cujas hastes altas e esguias ficam não em pé, mas graciosamente reclinadas para a luz do meio-dia no centro do vale. Suas cascas estavam salpicadas de um esplendor vívido alternando ébano e cinza e eram mais macias que tudo exceto a face de Eleonora; de forma que, não fosse o verde brilhante das grandes folhas que se espalhavam em linhas trêmulas de suas cúpulas há muito flertando com o Zéfiro, alguém poderia imaginar serpentes gigantescas da Síria fazendo reverência ao poder do Sol.

De mãos dadas por esse vale, por quinze anos, caminhamos eu e Eleonora antes do amor entrar em nossos corações. Foi em uma noite próxima ao terceiro lustro de sua vida, e ao quarto da minha, que nos sentamos envolvidos no abraço um do outro, debaixo das árvores semelhantes a serpentes, e contemplamos nossas imagens refletidas na água do Rio do Silêncio. Não falamos durante o resto daquele doce dia, e mesmo na manhã seguinte nossas palavras foram trêmulas e escassas. Tínhamos atraído o Deus Eros a partir daquela agitação, e agora sentimos que ele ateou em nós o sentimento ardente de nossos antepassados. As paixões, que tem distinguido nossa raça por séculos, reuniram-se com as fantasias as quais tem sido igualmente notáveis, e juntas respiraram a felicidade delirante sobre o Vale de Relva Multicolorida. Uma mudança caiu sobre todas as coisas. Estranhas flores brilhantes em forma de estrela surgiram por sobre as árvores onde antes não existiam. Os matizes do carpete verde se intensificaram, e quando, uma a uma, as margaridas brancas encolheram-se, apareceram em seu lugar, de dez em dez, os asfódelos de cor vermelho-rubi. E a vida acordou em nosso caminho; porque o alto flamingo, invisível até agora, com todos os alegres e radiantes pássaros exibiram sua plumagem escarlate diante de nós. Os peixes dourados e prateados apareceram no rio, de onde surgiu, pouco a pouco, um murmúrio crescente e gradativamente tornou-se uma melodia tranquila, mais divina do que a harpa mais doce de Éolo, mais do que tudo exceto a voz de Eleonora. E então, uma nuvem volumosa que observamos há tempos na região de Hesper, saiu daquele lugar resplandecente em carmesim e ouro, e assentando-se em paz acima de nós, abaixou, dia após dia, pouco a pouco, até que suas bordas descansaram em cima do topo das montanhas tornando todo o obscurecimento em magnificência e nos calando, como se estivéssemos eternamente dentro de uma cadeia de grandeza e de glória.


Tradução: William Wilson




Eleonora


Edgar Allan Poe


E, aqui e ali, em pomares espalhados por este pasto, como numa imensidão de sonhos, brotaram fantásticas árvores, cujos altos e finos caules não ficavam de pé, mas inclinavam-se elegantemente em direção a luz do meio-dia que espreitava o topo do vale. Suas cascas eram marcadas por uma alegre e suntuosa mistura de ébano e prata, e eram mais suaves do que qualquer outra coisa, exceto as faces de Eleonora; tanto assim que não fosse o verde radiante das enormes folhas que se espalham das cimeiras em longas linhas trêmulas brincando com os Zéfiros, bem poderiam ser confundidos com serpentes gigantes da Síria prestando homenagem ao seu soberano, o Sol.

De mãos dadas por este vale, por quinze anos vaguei com Eleonora antes do amor entrar em nossos corações. Foi uma noite no encerramento do terceiro lustro de sua vida, e do quarto da minha própria, que nos sentamos trancados em um abraço, sob as árvores que pareciam serpentes, e olhamos para nossas imagens refletidas nas águas do Rio do Silêncio. Não falamos mais nada durante o resto daquele dia encantador, e nossas palavras, mesmo após o dia seguinte, foram raras e receosas. Tínhamos tirado o deus Eros daquelas águas, e agora sentimos que ele havia inflamado em nós a alma ardente de nossos antepassados. O desejo que durante séculos distinguiu nosso povo veio nos atropelar com fantasias pelas quais tinham sido notáveis, e juntos sussurramos uma delirante felicidade sobre o vale do Pasto Multicolorido. Tudo como por encanto mudou. Curiosas flores brilhantes, em forma de estrela, cintilavam sobre as árvores, onde flores jamais haviam sido vistas. A coloração do tapete verde se intensificou, e quando, uma a uma, as margaridas brancas murcharam, lá surgiram substituindo-as vários asfódelos da cor de rubis. E vida surgia em nosso caminho; enquanto isso um grande flamingo, até então invisível, como todas as aves pomposas, ostentava sua plumagem escarlate ante nós. Peixes dourados e prateados infestavam o rio, de cujo seio se erguia, de mansinho, um sussurro que, por fim, foi engrossado até se tornar uma suave melodia mais divina do que a da harpa de Éolo, mais doce do que tudo, não fosse a voz de Eleonora. E agora, também uma enorme nuvem, que por muito tempo dominava as regiões de Hesper, avançava num deslumbramento carmesim e ouro e vinha pairar serenamente sobre nós, descendo dia a dia até repousar sobre o cume dos vales, transfigurando-os com o seu glorioso esplendor e encerrando-nos, como que para sempre, dentro duma mágica prisão de magnificência e glória.


Tradução: Marie Rouget




ELEONORA

(Excerto)

E aqui e ali, em pequenos bosques dispersos por essa relva, qual matas de sonhos, nasciam árvores fantásticas cujos troncos, sobre serem adelgaçados, não subiam a prumo, mas apontavam graciosamente para a luz que, ao meio-dia, se projetava no centro do vale. Sua casca era pontilhada da viva florescência alternada do ébano e da prata e era mais suave que tudo menos as faces de Eleonora, de modo que, não fosse o brilho verdejante das enormes folhas que se abriam nos cimos em longas linhas trêmulas, bulidas pelos zéfiros, se poderia tomá-las por gigantescas serpentes da Síria prestando homenagem a seu soberano, o Sol.

Mão por mão por esse vale, durante quinze anos vagamos eu e Eleonora, antes que o Amor penetrasse nossos corações. Foi numa tarde no fim do terceiro lustro de sua vida e do quarto da minha que nos sentamos estreitamente abraçados, sob as árvores serpentinas, e miramos nas águas do Rio do Silêncio nossas imagens ali refletidas. Nada dissemos no restante daquele doce dia, e mesmo na manhã seguinte nossas palavras foram trêmulas e poucas. Havíamos atraído o deus Eros para fora daquelas águas e agora sentíamos que ele acendera em nós as inflamadas almas de nossos antecessores. A paixão que por séculos distinguira nossa raça veio misturar-se à imaginação por que também ela se fizera notar, e juntas sopraram um êxtase de delírio pelo Vale da Relva Multicor. Uma mudança incidiu sobre todas as coisas. Estranhas flores brilhantes em forma de estrela irromperam nas árvores em que flor nenhuma jamais se dera a conhecer. Acentuaram-se os matizes do tapete verdejante; e quando, uma a uma, as alvas margaridas recolheram-se, nasceram em seu lugar dezenas e dezenas de rubros asfódelos. E a vida surgiu em nossas trilhas, pois o altivo flamingo, outrora inviso, com gaios e afogueados pássaros, desfilou sua plumagem escarlate a nossa frente. Peixes dourados e prateados afluíram ao rio, de cujo seio, pouco a pouco, brotou um murmúrio que, por fim, se elevou num melodioso acalanto mais divino que a harpa de Éolo—mais doce que tudo menos a voz de Eleonora. E também uma nuvem imensa, que fazia muito observávamos nas regiões de Vésper, veio flutuando, toda deslumbrante em ouro e carmim, e, após pairar serenamente sobre nós, dia a dia desceu mais e mais, até suas extremidades repousarem no alto das montanhas, transformando toda sua obscuridade em magnificência e confinando-nos, como se para sempre, num maravilhoso cárcere de grandiosidade e de esplendor.


Tradução: Annabel Lee




E aqui e ali, em arvoredos sobre esta grama, como matagais de sonhos, elevaram-se árvores fantásticas, cujos altos e esbeltos troncos não se sustentam retos mas graciosamente inclinados em direção à luz, que observa, ao meio-dia, o centro do vale. Suas cascas foram salpicadas com o esplendor vívido, alternando as colorações ébano e prata e foram mais suaves do que todos, salvo a face de Eleonora, de modo que, com exceção do verde brilhante das enormes folhas que se espalham do topo em linhas longas e trêmulas flertando com Zéfiro, uma delas poderia ter gostado das serpentes gigantes da Síria, que homenageiam o seu Sol .

De mãos dados por este vale, durante 15 anos, vagamos Eleonora e eu antes do Amor entrar em nossos corações. Foi numa tarde, no final do terceiro lustro de sua vida e o quarto da minha, que sentamo-nos, trancados um no abraço do outro, sob as árvores em forma de serpentes e olhamos para as nossas imagens refletidas nas águas do Rio do Silêncio. Nós falamos palavra nenhuma durante o resto daquele doce dia e nossas palavras eram poucas e trêmulas mesmo no dia seguinte. Nós havíamos desenhado o Deus Eros daquela onda e agora sentíamos que ele havia ascendido, dentro de nós, as almas ardentes de nossos antepassados. As paixões que, por séculos, haviam diferenciado nossa raça, vieram aglomeradas com os caprichos pelos quais elas também haviam sido igualmente notadas e juntas inalaram um delirante êxtase sobre o Vale das Gramas Multi Coloridas. Uma mudança caiu sobre todas as coisas. Flores estranhas, brilhantes, em forma de estrela, quimaram sobre as árvores onde antes não se havia visto nenhuma flor. A matiz do tapete verde aprofundou-se e quando, uma a uma, as margaridas brancas retiraram-se, brotaram no lugar delas, às dezenas, asfódelos vermelho-rubis. E a vida cresceu no nosso caminho, quando o alto flamingo, até então invisível, com todas as aves brilhantes, alegres, exibiu sua plumagem escarlate diante de nós. Os peixes dourados e prateados assombravam o rio, fora do peito que emitia, pouco a pouco, um murmúrio que se intensificava, no final das contas, numa melodia de ninar mais divina do que aquela da harpa de Éolo, mais doce do que todas, exceto do que a voz de Eleonora. E, agora, também uma nuvem volumosa, que nós já havíamos observado há muito tempo nas regiões de Hésper, flutuaram para fora dali, toda linda em vermelho e dourado e acomodando-se em paz acima de nós, afundava-se, dia a dia, cada vez mais baixa, até que suas bordas repousaram no topo das montanhas, tranformando toda a sua obscuridade em magnificência e calando-nos, como que eternamente, dentro de uma mágica prisão-residencial de grandeza e de glória.


Tradução: Maria Clemm




E, aqui e ali, em matagais em meio à relva, como selvagens delírios oníricos, erguiam-se árvores fantásticas, cujos troncos altos e esguios não se sustentavam verticalmente, mas inclinavam-se graciosamente na direção da luz do meio-dia que penetrava o centro do vale. O esplendor vívido do ébano e da prata manchava alternadamente a casca dos seus troncos, só não mais aveludadas do que as faces de Leonor e, não fosse o brilho do verde de suas folhas imensas que se espalhavam das copas em linhas trêmulas e longas brincando ao vento, a imaginação poderia vê-las como gigantescas serpentes da Síria homenageando seu soberano Sol.

Durante quinze anos, vagamos de mãos dadas pelo vale, Leonor e eu, antes que o Amor penetrasse nossos corações. Foi ao fim de uma tarde, quando ela tinha cerca de quinze anos e eu quase vinte, que nos quedamos aprisionados em um abraço sob as árvores esguias e miramos nossa imagem refletida nas águas do rio do Silêncio. Permanecemos mudos pelo resto daquele dia tão terno, e nossas palavras eram ainda trêmulas e raras na manhã seguinte. Havíamos capturado das águas o deus Eros e então sentíamo-nos incendiados pelas almas ardentes dos nossos antepassados. As paixões que, por séculos, distinguiram nossa raça e as fantasias que igualmente a tornaram notável nos inundaram, e juntas exalaram um delirante sopro de felicidade sobre o Vale da Relva Multicor. Tudo em volta se transformou. Bizarras flores brilhantes em forma de estrela eclodiram no alto das árvores, onde nenhuma flor outrora desabrochara. As tonalidades de verde da relva se acentuaram, e quando, uma a uma, as brancas margaridas se encolheram, dezenas e dezenas de rubros asfódelos desabrocharam em seu lugar. E a vida pululou em nossos caminhos. O esguio flamingo, até então oculto, juntou-se aos alvoroçados pássaros exuberantes e exibiu sua plumagem escarlate diante de nós. Peixes dourados e prateados assomaram de surpresa ao rio, de cujo seio ouviu-se um murmúrio que, num crescendo, tornou-se uma suave melodia, mais divina que aquela advinda da harpa de Eolo e só não mais doce que a voz de Leonor. E uma nuvem densa, que há muito observáramos nas proximidades da estrela Vésper, flutuou, deslumbrante em púrpura e ouro, e pairou tranquilamente sobre nós, baixando dia a dia, mais e mais, até que suas bordas descansaram no topo das montanhas, transformando suas sombras em magnificência e nos envolvendo para sempre em mágica prisão de grandiosidade e glória.


Tradução: Arthur Gordon Pyn


segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

"Eleonora", de Edgar Allan Poe

Após uma longa pausa, o Laboratório Tradutório volta à ativa em grande estilo: traduziremos e discutiremos um fragmento do conto "Eleonora", de Edgar Allan Poe. A discussão referente a este laboratório ocorreu neste tópico da nossa comunidade no Orkut.

O prazo para entrega é dia 30 de janeiro de 2010. No dia 31 as traduções serão publicadas e a discussão começará na comunidade.

O e-mail para envio das traduções é pabloguito [ARROBA] gmail [PONTO] com (coordenador deste laboratório: Pablo)

O conto está inteiro abaixo, apenas para referência, mas ATENÇÃO: o fragmento a ser traduzido é apenas o que está na cor preta.



Eleonora
by Edgar Allan Poe


Sub conservatione formae specificae salva anima.
RAYMOND LULLY.

I AM come of a race noted for vigor of fancy and ardor of passion. Men have called me mad; but the question is not yet settled, whether madness is or is not the loftiest intelligence–whether much that is glorious–whether all that is profound–does not spring from disease of thought–from moods of mind exalted at the expense of the general intellect. They who dream by day are cognizant of many things which escape those who dream only by night. In their gray visions they obtain glimpses of eternity, and thrill, in awakening, to find that they have been upon the verge of the great secret. In snatches, they learn something of the wisdom which is of good, and more of the mere knowledge which is of evil. They penetrate, however, rudderless or compassless into the vast ocean of the "light ineffable," and again, like the adventures of the Nubian geographer, "agressi sunt mare tenebrarum, quid in eo esset exploraturi."

We will say, then, that I am mad. I grant, at least, that there are two distinct conditions of my mental existence–the condition of a lucid reason, not to be disputed, and belonging to the memory of events forming the first epoch of my life–and a condition of shadow and doubt, appertaining to the present, and to the recollection of what constitutes the second great era of my being. Therefore, what I shall tell of the earlier period, believe; and to what I may relate of the later time, give only such credit as may seem due, or doubt it altogether, or, if doubt it ye cannot, then play unto its riddle the Oedipus.

She whom I loved in youth, and of whom I now pen calmly and distinctly these remembrances, was the sole daughter of the only sister of my mother long departed. Eleonora was the name of my cousin. We had always dwelled together, beneath a tropical sun, in the Valley of the Many-Colored Grass. No unguided footstep ever came upon that vale; for it lay away up among a range of giant hills that hung beetling around about it, shutting out the sunlight from its sweetest recesses. No path was trodden in its vicinity; and, to reach our happy home, there was need of putting back, with force, the foliage of many thousands of forest trees, and of crushing to death the glories of many millions of fragrant flowers. Thus it was that we lived all alone, knowing nothing of the world without the valley–I, and my cousin, and her mother.

From the dim regions beyond the mountains at the upper end of our encircled domain, there crept out a narrow and deep river, brighter than all save the eyes of Eleonora; and, winding stealthily about in mazy courses, it passed away, at length, through a shadowy gorge, among hills still dimmer than those whence it had issued. We called it the "River of Silence"; for there seemed to be a hushing influence in its flow. No murmur arose from its bed, and so gently it wandered along, that the pearly pebbles upon which we loved to gaze, far down within its bosom, stirred not at all, but lay in a motionless content, each in its own old station, shining on gloriously forever.

The margin of the river, and of the many dazzling rivulets that glided through devious ways into its channel, as well as the spaces that extended from the margins away down into the depths of the streams until they reached the bed of pebbles at the bottom,–these spots, not less than the whole surface of the valley, from the river to the mountains that girdled it in, were carpeted all by a soft green grass, thick, short, perfectly even, and vanilla-perfumed, but so besprinkled throughout with the yellow buttercup, the white daisy, the purple violet, and the ruby-red asphodel, that its exceeding beauty spoke to our hearts in loud tones, of the love and of the glory of God.

And, here and there, in groves about this grass, like wildernesses of dreams, sprang up fantastic trees, whose tall slender stems stood not upright, but slanted gracefully toward the light that peered at noon-day into the centre of the valley. Their bark was speckled with the vivid alternate splendor of ebony and silver, and was smoother than all save the cheeks of Eleonora; so that, but for the brilliant green of the huge leaves that spread from their summits in long, tremulous lines, dallying with the Zephyrs, one might have fancied them giant serpents of Syria doing homage to their sovereign the Sun.

Hand in hand about this valley, for fifteen years, roamed I with Eleonora before Love entered within our hearts. It was one evening at the close of the third lustrum of her life, and of the fourth of my own, that we sat, locked in each other's embrace, beneath the serpent-like trees, and looked down within the water of the River of Silence at our images therein. We spoke no words during the rest of that sweet day, and our words even upon the morrow were tremulous and few. We had drawn the God Eros from that wave, and now we felt that he had enkindled within us the fiery souls of our forefathers. The passions which had for centuries distinguished our race, came thronging with the fancies for which they had been equally noted, and together breathed a delirious bliss over the Valley of the Many-Colored Grass. A change fell upon all things. Strange, brilliant flowers, star-shaped, burn out upon the trees where no flowers had been known before. The tints of the green carpet deepened; and when, one by one, the white daisies shrank away, there sprang up in place of them, ten by ten of the ruby-red asphodel. And life arose in our paths; for the tall flamingo, hitherto unseen, with all gay glowing birds, flaunted his scarlet plumage before us. The golden and silver fish haunted the river, out of the bosom of which issued, little by little, a murmur that swelled, at length, into a lulling melody more divine than that of the harp of Aeolus-sweeter than all save the voice of Eleonora. And now, too, a voluminous cloud, which we had long watched in the regions of Hesper, floated out thence, all gorgeous in crimson and gold, and settling in peace above us, sank, day by day, lower and lower, until its edges rested upon the tops of the mountains, turning all their dimness into magnificence, and shutting us up, as if forever, within a magic prison-house of grandeur and of glory.

The loveliness of Eleonora was that of the Seraphim; but she was a maiden artless and innocent as the brief life she had led among the flowers. No guile disguised the fervor of love which animated her heart, and she examined with me its inmost recesses as we walked together in the Valley of the Many-Colored Grass, and discoursed of the mighty changes which had lately taken place therein.

At length, having spoken one day, in tears, of the last sad change which must befall Humanity, she thenceforward dwelt only upon this one sorrowful theme, interweaving it into all our converse, as, in the songs of the bard of Schiraz, the same images are found occurring, again and again, in every impressive variation of phrase.

She had seen that the finger of Death was upon her bosom–that, like the ephemeron, she had been made perfect in loveliness only to die; but the terrors of the grave to her lay solely in a consideration which she revealed to me, one evening at twilight, by the banks of the River of Silence. She grieved to think that, having entombed her in the Valley of the Many-Colored Grass, I would quit forever its happy recesses, transferring the love which now was so passionately her own to some maiden of the outer and everyday world. And, then and there, I threw myself hurriedly at the feet of Eleonora, and offered up a vow, to herself and to Heaven, that I would never bind myself in marriage to any daughter of Earth–that I would in no manner prove recreant to her dear memory, or to the memory of the devout affection with which she had blessed me. And I called the Mighty Ruler of the Universe to witness the pious solemnity of my vow. And the curse which I invoked of Him and of her, a saint in Helusion should I prove traitorous to that promise, involved a penalty the exceeding great horror of which will not permit me to make record of it here. And the bright eyes of Eleonora grew brighter at my words; and she sighed as if a deadly burthen had been taken from her breast; and she trembled and very bitterly wept; but she made acceptance of the vow, (for what was she but a child?) and it made easy to her the bed of her death. And she said to me, not many days afterward, tranquilly dying, that, because of what I had done for the comfort of her spirit she would watch over me in that spirit when departed, and, if so it were permitted her return to me visibly in the watches of the night; but, if this thing were, indeed, beyond the power of the souls in Paradise, that she would, at least, give me frequent indications of her presence, sighing upon me in the evening winds, or filling the air which I breathed with perfume from the censers of the angels. And, with these words upon her lips, she yielded up her innocent life, putting an end to the first epoch of my own.

Thus far I have faithfully said. But as I pass the barrier in Times path, formed by the death of my beloved, and proceed with the second era of my existence, I feel that a shadow gathers over my brain, and I mistrust the perfect sanity of the record. But let me on.–Years dragged themselves along heavily, and still I dwelled within the Valley of the Many-Colored Grass; but a second change had come upon all things. The star-shaped flowers shrank into the stems of the trees, and appeared no more. The tints of the green carpet faded; and, one by one, the ruby-red asphodels withered away; and there sprang up, in place of them, ten by ten, dark, eye-like violets, that writhed uneasily and were ever encumbered with dew. And Life departed from our paths; for the tall flamingo flaunted no longer his scarlet plumage before us, but flew sadly from the vale into the hills, with all the gay glowing birds that had arrived in his company. And the golden and silver fish swam down through the gorge at the lower end of our domain and bedecked the sweet river never again. And the lulling melody that had been softer than the wind-harp of Aeolus, and more divine than all save the voice of Eleonora, it died little by little away, in murmurs growing lower and lower, until the stream returned, at length, utterly, into the solemnity of its original silence. And then, lastly, the voluminous cloud uprose, and, abandoning the tops of the mountains to the dimness of old, fell back into the regions of Hesper, and took away all its manifold golden and gorgeous glories from the Valley of the Many-Colored Grass.

Yet the promises of Eleonora were not forgotten; for I heard the sounds of the swinging of the censers of the angels; and streams of a holy perfume floated ever and ever about the valley; and at lone hours, when my heart beat heavily, the winds that bathed my brow came unto me laden with soft sighs; and indistinct murmurs filled often the night air, and once–oh, but once only! I was awakened from a slumber, like the slumber of death, by the pressing of spiritual lips upon my own.

But the void within my heart refused, even thus, to be filled. I longed for the love which had before filled it to overflowing. At length the valley pained me through its memories of Eleonora, and I left it for ever for the vanities and the turbulent triumphs of the world.

I found myself within a strange city, where all things might have served to blot from recollection the sweet dreams I had dreamed so long in the Valley of the Many-Colored Grass. The pomps and pageantries of a stately court, and the mad clangor of arms, and the radiant loveliness of women, bewildered and intoxicated my brain. But as yet my soul had proved true to its vows, and the indications of the presence of Eleonora were still given me in the silent hours of the night. Suddenly these manifestations they ceased, and the world grew dark before mine eyes, and I stood aghast at the burning thoughts which possessed, at the terrible temptations which beset me; for there came from some far, far distant and unknown land, into the gay court of the king I served, a maiden to whose beauty my whole recreant heart yielded at once–at whose footstool I bowed down without a struggle, in the most ardent, in the most abject worship of love. What, indeed, was my passion for the young girl of the valley in comparison with the fervor, and the delirium, and the spirit-lifting ecstasy of adoration with which I poured out my whole soul in tears at the feet of the ethereal Ermengarde?–Oh, bright was the seraph Ermengarde! and in that knowledge I had room for none other.–Oh, divine was the angel Ermengarde! and as I looked down into the depths of her memorial eyes, I thought only of them–and of her.

I wedded;–nor dreaded the curse I had invoked; and its bitterness was not visited upon me. And once–but once again in the silence of the night; there came through my lattice the soft sighs which had forsaken me; and they modelled themselves into familiar and sweet voice, saying:

"Sleep in peace!–for the Spirit of Love reigneth and ruleth, and, in taking to thy passionate heart her who is Ermengarde, thou art absolved, for reasons which shall be made known to thee in Heaven, of thy vows unto Eleonora."

THE END

sábado, 5 de abril de 2008

"Approdi del futuro", de Massimo Minella

Tradução do italiano para o português, organizada e discutida neste tópico da nossa comunidade.




Approdi del futuro


Il legame fortissimo con il mare che c'è nelel città che vivono lungo le coste italiane sta facendo maturare il desiderio di trasformare i porti e il loro immediato entroterra in luoghi aperti, capaci di offrire spazi da vivere con intensità, carichi come sono di storia, cultura e arte. I Viaggi


Camminare con il mare come compagno di viaggio. Muoversi lungo il filo di costa, senza fretta. È l'ultima sfida delle città portuali italiane: Genova, Napoli, Trieste, ma anche Savona, Ravenna, Bari. Grandi o piccole, ma con un Dna comune: l'inscindibile legame fra il territorio e le sue banchine. Rapporto complesso, difficile, spesso conflittuale quello che si vive in Italia, con reciproci scambi di accuse, sottolineature pesanti all'invadenza dell'una o dell'altro nei rispettivi ambiti.


E proprio qui sta il punto e, al tempo stesso, l'essenza di una sfida che vuol trasformare le città portuali in una rete di territori aperti al confronto, capaci di offrire angoli d'Italia inimmaginabili, spazi da vivere con intensità e calma, ricchi di storia, cultura, arte. Unica condizione, far cadere quella barriera, a volte fisicamente delimitata da muri o cancellate, altre volte invisibili ma altrettanti presenti, che delimitano i confini. È la sfida dei waterfront portuali, quel filo di costa che spesso è terra di nessuno, non più città, non ancora porto. E invece proprio quel filo che di fatto unisce tutta la penisola e si rafforza nelle venticinque città sedi di autorità portuali (gli enti a cui compete il governo del porto) è l'elemento su cui scommettere con maggiore forza.


Non è un caso che tutte quante le città portuali stiano ripensando il loro rapporto con il mare, dando al territorio la possibilità di un affaccio diretto alla costa. Il paradigma di questa Italia, così nuova ma tanto antica, capace di affondare le sue radici in un passato mercantile che rimanda al Medioevo, è Genova, orgogliosa Repubblica che ancora non ha rinunciato al suo desiderio di restare "Superba".


Qui, cogliendo al volo l'opportunità offerta nel 1992 delle Celebrazioni Colombiane per i 500 anni della scoperta dell'America, si può dire sia nata la scuola italiana del waterfront. Sfruttando al meglio la pioggia di finanziamenti arrivati per le Colombiane, Genova ha affidato alla matita dell'architetto Renzo Piano la sua ritrovata vocazione di città portuale. Complice una fase di profonda incertezza dei traffici, che all'epoca avevano relegato Genova ai margini del business marittimo, la città riuscì ad appropriarsi di spazi non più sfruttati dalle attività commerciali. Nacque lì il primo nucleo di iniziative che trasformarono l'area compresa fra i Magazzini del Cotone e il ponte Spinola nell'Expò di Genova, che oggi ha nell'Acquario il suo punto di maggior richiamo turistico. Viene abbattuta la cancellata che separa piazza Caricamento dal suo mare e Genova ritrova d'un colpo la sua suggestione più forte, quella essere vista dall'acqua. Non un sol giorno, da allora, è passato senza l'area dell'Expò non sia stata meta di visite, incontri, semplice passeggio di residenti e turisti.


Uno dopo l'altro sono sorti ristoranti, bar, locali, esercizi commerciali, attrazioni turistiche, centri d'arte e di cultura. E la strada continua ancora con Renzo Piano, a cui Genova ha affidato la riscrittura del suo affaccio a mare con il nuovo progetto del waterfront. Per sperimentarla, questa “new Genova” basta scendere a piedi da piazza De Ferrari, lasciarsi scivolare lungo via San Lorenzo, costeggiare la cattedrale e fare una prima sosta a palazzo San Giorgio, oggi sede dell'autorità portuale, casa-simbolo della gloriosa Repubblica (qui nacque il Banco di San Giorgio che finanziò la grande avventura globale delle esplorazioni geografiche, ma qui venne anche incarcerato Marco Polo che al piano terra del palazzo dettò a Rustichello da Pisa il suo “Milione”). Dalla piazza si entra nel cuore della città portuale e l'unica strada è quella senza meta. Le vecchie bitte e le gru idrauliche raccontano ancora di un mare che dava lavoro grazie alle braccia dei camalli.


Oggi quelle braccia ci sono ancora (i soci della Compagnia Unica sono un migliaio), ma sono spostate più in là, a Ponente. Qui il lavoro è diventato "servizi", turismo, cultura e commercio. Per rendersene conto basta camminare verso i Magazzini del Cotone e affacciarsi sul Molo Vecchio, dove oggi accostano docili i grandi yacht, o camminare lungo le vecchie calate, dal Porto Franco allo Spinola, proseguendo sull’ultima area risanata che da ponte Morosini arriva fino alla vecchia Darsena. Qui il sapere antico dell’acqua salata rinasce attraverso nuove suggestioni in un’attrazione culturale di fresca concezione come il Museo del Mare.


La sfida, adesso, è far cadere l’ultima barriera, rendendo vivibile anche l’area che da ponte Parodi, attraverso lo splendido Hennebique (primo manufatto italiano in cemento armato, completamente da risanare) arriva fino alla Stazione Marittima. Si creerebbe così un waterfront unico al mondo, capace di spingersi fino ai piedi della Lanterna, con un percorso pedonale ininterrotto lungo qualche chilometro.


Stessa angolazione, uguali suggestioni, per le altre portualità storiche che sulla valorizzazione del filo di costa stanno scommettendo parecchio: Napoli e Trieste. Nel cuore del Tirreno, con un’iniziativa di ridisegno del waterfront, Napoli gioca buona parte del suo futuro turistico. Scelto il progetto al termine del bando internazionale, presto partiranno le gare di appalto. Per il momento, per chi è in cerca di emozioni, vale la pena partire dalla Stazione Marittima e camminare lasciandosi a fianco la Darsena da cui partiranno le grandi vele e il molo Beverello, che da febbraio darà spazio esclusivo agli aliscafi. Punto d’arrivo, solo parziale tenuto conto dei progetti, l’Immacolatella vecchia, da cui partono le autostrade del mare.


Si può partire ancor più da lontano dialogando con il mare, se la meta è Trieste. Fin dalla splendida Sistiana per arrivare alla zona di Miramare e, da qui, alla Barcola. Qualche chilometro ed ecco la più forte delle suggestioni, quella del Porto Vecchio. Qui si cammina sulle Rive, partendo dalla Capitaneria di Porto per proseguire poi lungo piazza Duca d’Aosta, piazza Unità d’Italia fino alla zona della Lanterna. La sfida è quella dei Punti Franchi, angoli di porto che hanno fatto la storia della vita marittima italiana e che sono ora oggetto di un profondo restyling da parte dell’authority.



(Tradutor: Huguinho)


Caminhar e ter por companheiro de viagem o mar. Ir pela linha do litoral, sem pressa. É esse o mais novo desafio das cidades portuárias italianas: Gênova, Nápoles, Trieste, mas também Savona, Ravenna, Bari. Cidades grandes ou pequenas, mas com o mesmo código genêtico: uma relação de simbiose entre o seu território e os cais. Na Itália, essa é sempre uma relação complexa, difícil, freqüentemente conflituosa, com trocas de acusações, em que cada parte se queixa da invasão pela outra.


Estão bem aqui o nó e o significado de um desafio que pretende transformar as cidades portuárias numa rede de territórios abertos ao confronto, capazes de proporcionar a visão de recantos de uma Itália inimaginável, espaços a serem vividos intensamente e, ao mesmo tempo, com calma, repletos de história, de cultura, de arte. A única condição é que caiam aquelas barreiras, às vezes concretamente delimitadas por muros ou grades, outras vezes invisíveis, mas nem por isso menos reais, que dividem a cidade do mar. É o desafio das margens portuárias, aquela faixa costeira que às vezes é uma terra de ninguém: nem mais cidade nem porto ainda. Mas essa faixa que, de fato, reúne toda a península e se reforça nas vinte e cinco cidades que sediam autoridades portuárias (os órgãos que governam os portos) é justamente o elemento em que se deveria apostar mais.


Afinal, é por isso que todas as cidades portuárias estão repensando a sua relação com o mar, para que o território possa se abrir diretamente para o litoral. A cidade paradigmática dessa Itália, tão nova e também tão antiga, capaz de lançar as suas raízes num passado mercantil que remete à Idade Média, é Gênova, orgulhosa República que ainda não abandonou o seu desejo de ser “a Soberba”.


Aqui, aproveitando a oportunidade oferecida, em 1992, pelas comemorações Colombianas no quinto centenário do descobrimento da América, pode-se dizer que surgiu a escola italiana do desafio da waterfront. Explorando da melhor forma a avalanche de financiamentos para aquelas comemorações, Gênova confiou à prancheta do arquiteto Renzo Piano a chance de reencontrar a sua vocação de cidade portuária. Graças a uma fase de grande crise dos tráfegos, que, à época, havia levado Gênova a ocupar uma posição marginal nos negócios marítimos, a cidade tem conseguido retomar posse de espaços que já não eram utilizados para as atividades comerciais. Foi ali que nasceu o primeiro núcleo de iniciativas que têm transformado a área compreendida entre os Armazéns do Algodão e a Ponte Spinola na Expo Center de Gênova, que hoje tem no Aquário o seu ponto de maior apelo turístico. Depois da derrubada da grade que separava Praça Caricamento das suas águas, Gênova reencontrou, de repente, o seu charme maior: poder ser enxergada pelo mar. Desde então, todos os dias a área da Expo Center fica cheia de turistas e nativos que vão lá para um passeio, uma visita, um encontro.




Ancoradouros do futuro (Tradutor: Zezinho)


O fortíssimo vínculo com o mar existente nas cidades localizadas ao longo da costa italiana está amadurecendo o desejo de transformar portos e os seus entornos em locais abertos, capazes de oferecer espaços para se viver com intensidade, uma vez que já são repletos de história, cultura e arte.

I Viaggi (viaggi.repubblica.it)


Caminhar tendo o mar como companheiro de viagem. Deslocar-se ao longo da costa, sem pressa. É o mais recente desafio das cidades portuárias italianas: Gênova, Nápoles e Trieste, além de Savona, Ravenna e Bari. Grandes ou pequenas, mas com um DNA comum: o inseparável vínculo existente entre a terra e seus desembarcadouros. Relação complexa, difícil, freqüentemente conflitante com o que se vive na Itália, com trocas recíprocas de acusações, tendo ênfase destacada na invasão de uma parte ou de outra nas respectivas esferas.


E é exatamente aqui que estão o aspecto principal e, ao mesmo tempo, a essência de um desafio de querer transformar as cidades portuárias em uma rede de territórios abertos a discussões, capazes de oferecer ângulos inimagináveis da Itália, com espaços para se viver com intensidade e calma, ricos em história, cultura e arte. A única condição é fazer caírem as barreiras, às vezes em forma física de muros ou cancelas, tantas vezes invisíveis, mas mesmo assim presentes, que demarcam os territórios. É o desafio das orlas portuárias, aquelas regiões da costa que muitas vezes são terra de ninguém, nem cidade nem porto. E ainda a própria orla que de fato une toda a península e se consolida nas vinte e cinco cidades sedes de autoridades portuárias (as entidades às quais compete a administração do porto) é o elemento no qual se aposta com mais intensidade.


Não se trata de todas as cidades estarem a refletir a sua relação com o mar, oferecendo à terra a possibilidade de uma vista direta da costa. O paradigma dessa Itália tanto nova como antiga, capaz de fixar as suas raízes em um passado mercantil que remonte à Idade Média, é Gênova, orgulhosa república que ainda não renunciou ao seu anseio de tornar-se "grandiosa".


Aqui, agarrando imediatamente a oportunidade oferecida em 1992 para as Celebrações de Colombo pelos 500 anos da descoberta da América, pode-se dizer que tenha nascido a escola italiana da orla marítima. Aproveitando ao máximo a torrente de financiamentos destinados às celebrações, Gênova confiou aos traços do arquiteto Renzo Piano a sua vocação redescoberta de cidade portuária. Tendo enfrentado uma fase de profunda incerteza através de negociatas, que na época relegaram Gênova às margens dos negócios marítimos, a cidade conseguir apropriar-se de espaços não mais aproveitados para atividades comerciais. Nasceu ali o primeiro núcleo de iniciativas que transformaram a área entre os Magazzini del Cotone e a ponte Spinola na Expo de Gênova, cujo aquário é hoje o ponto de maior apelo turístico. Foi retirada a cerca que separava a praça Caricamento do mar e Genova imediatamente recuperou o seu maior encanto, que é ser vista da água. Desde então, não há um dia sequer que se passe sem a área da Expo ser destino de visitas, encontros e simples passeios de residentes e turistas.


Um após o outro, abriram-se restaurantes, bares, locais de eventos, estabelecimentos comerciais, atrações turísticas e centros de arte e de cultura. E as atividades continuam com Renzo Piano, a quem Genova confiou a repaginação da sua vista ao mar com o novo projeto da orla. Para vivenciar essa “nova Genova”, basta descer a pé a partir da praça De Ferrari, deixando-se deslizar ao longo da via San Lorenzo, costear a catedral e fazer uma primeira parada no palácio San Giorgio, hoje sede da autoridade portuária, casa símbolo da gloriosa república (aqui nasceu o Banco di San Giorgio, que financiou a grande aventura mundial das explorações geográficas, mas onde também foi encarcerado Marco Polo, que no piso térreo deste palácio ditou a Rustichello da Pisa o seu “Milione”). A partir da praça entra-se no coração da cidade portuária e o caminho único é aquele sem destino. Os velhos cabeços de amarração e as gruas hidráulicas ainda contam sobre um mar que oferecia trabalho graças aos braços dos estivadores.


Esses braços existem ainda hoje (os sócios da Compagnia Unica chegam a um milhar), mas foram deslocados para mais adiante, no Ponente. Aqui o trabalho transformou-se em “serviços”, turismo, cultura e comércio. Para perceber isso, basta caminhar em direção aos Magazzini del Cotone e pôr-se de frente ao Molo Vecchio, onde hoje aportam grandes e práticos iates, ou caminhar ao longo das velhas docas, do Porto Franco ao Spinola, prosseguindo pela última área saneada, que da ponte Morosini vai dar na velha Darsena. Aqui o antigo conhecimento da água salgada renasce através de novas sugestões em forma de atrativos culturais de concepções renovadas, como o Museo del Mare.


O desafio agora é fazer cair a última obstrução, tornando visível também a área que da ponte Parodi, passando pelo esplêndido Hennebique (primeira edificação italiana em cimento armado, à espera de reforma completa), vai dar na Stazione Marittima. Assim se criaria uma orla portuária única no mundo, capaz de lançar-se até os pés da Lanterna, com um percurso a pé ininterrupto de alguns quilômetros.


Perspectivas semelhantes e sugestões equivalentes para as outras zonas portuárias históricas com base na valorização da orla vêm tendo apostas similares. Nápoles e Trieste. No coração do Tirreno, com uma iniciativa de repaginação da zona portuária, está em jogo boa parte do futuro turístico de Nápoles. Tão logo seja selecionado o projeto com aprovação internacional, serão lançadas as licitações dos contratos. No momento, para quem busca emoções, vale a pena partir da Stazione Marittima e caminhar lado a lado com a Darsena, de onde partem os grandes veleiros, e o molhe Beverello, que a partir de fevereiro será espaço exclusivo de aliscafos. O ponto de chegada, apenas como avaliação parcial do projeto, é a velha Immacolatella, de onde partem as auto-estradas litorâneas.


E pode-se ir ainda mais longe conversando com o mar, se o destino for Trieste. Até mesmo a partir da esplêndida Sistiana para se chegar à zona de Miramare, e dali, a Barcola. Mais alguns quilômetros e já se alcança a sugestão mais enfatizada, que é o Porto Vecchio. Aqui se caminha pelas margens, partindo da Capitania de Portos e depois prosseguindo pelas praças Duca d’Aosta e Unità d’Italia até a zona da Lanterna. O desafio são os Punti Franchi, partes dos portos que fizeram a história da vida marítima italiana e que são agora objetos de uma profundamente nova forma de utilização por parte das autoridades.




(Tradutor: Luizinho) Gênova - Atracando no futuro


A forte ligação com o mar que existe nas cidades situadas ao longo da costa italiana está fazendo amadurecer o desejo de transformar os portos e os seus arredores em locais abertos, capazes de oferecer espaços para serem vividos com intensidade, já que são carregados de história, cultura e arte. As viagens.


Caminhar tendo o mar como companheiro de viagem. Mover-se ao longo da faixa costeira, sem pressa. Este é o último desafio das cidades portuárias italianas: Gênova, Nápoles, Trieste e também Savona, Ravenna e Bari. Grandes ou pequenas, mas com um DNA comum: a inseparável ligação entre o seu território e o cais. Esta que se vive na Itália é uma relação complexa, difícil, muitas vezes conflituosa, com trocas de acusações recíprocas, ênfases pesadas causadas pela intromissão de um no espaço do outro.


E é bem aí que está o nó, e ao mesmo tempo, a essência de um desafio que quer transformar as cidades portuárias em uma rede de territórios abertos ao confronto, capazes de oferecer recantos inimagináveis da Itália. Espaços a serem vividos com intensidade e calma, ricos de história, cultura e arte. A única condição é derrubar a barreira, freqüentemente delimitada fisicamente por muros ou cercas, algumas vezes invisíveis, mas sempre presentes, que delimitam as fronteiras. É o desafio das zonas portuárias, as faixas da costa que, muitas vezes, são terra de ninguém, onde não é mais cidade e ainda não é porto. E é exatamente esta faixa, que une toda a península e se consolida nas vinte e cinco cidades sedes da autoridade portuária (as entidades às quais compete o governo do porto), é o elemento onde se deve apostar com maior intensidade.


Não é por acaso que todas as cidades portuárias estejam repensando a sua relação com o mar, dando ao território a possibilidade de um panorama direto da costa. O paradigma desta Itália, tão nova e tão antiga, capaz de submergir as suas raízes em um passado mercantil que remonta à Idade Média, é Gênova, a orgulhosa república que ainda não renunciou ao seu desejo de permanecer “Soberba”.


Pode-se dizer que aqui tenha nascido a escola italiana da zona portuária, aproveitando, no momento exato, a oportunidade oferecida pelas Celebrações Colombianas pelos 500 anos de descoberta da América, em 1992. Empregando da melhor maneira possível a chuva de financiamentos que chegaram para as Celebrações Colombianas, Gênova confiou ao lápis do arquiteto Renzo Piano a sua vocação recuperada de cidade portuária. Cúmplice de uma fase de profunda incerteza de mercado, que na época havia relegado Gênova às margens dos negócios marítimos, a cidade conseguiu apropriar-se de espaços que não estavam sendo usados pelas atividades comerciais. Nasceu ali o primeiro núcleo de iniciativas que transformaram a área compreendida entre os Armazéns de Algodão e a ponte Spinola na Expo de Gênova, que tem hoje no Aquário o seu ponto de maior atração turística. A cerca que separa a Praça Caricamento do seu mar foi derrubada, e Gênova reencontra, de repente, o seu maior fascínio, o de ser vista do mar. Nenhum dia, desde então, passou sem que a área da Expo não tenha sido destino de visitas, encontros ou simples passeios de moradores e turistas.



quinta-feira, 14 de junho de 2007

"The Imp of the Perverse", de Edgar Allan Poe

* * * post atualizado * * *

Experiência de tradução inglês-português de um trecho de um conto de Edgar Allan Poe. A discussão sobre esta experiência está aqui: http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=50302&tid=2540134851747810478&na=4

O texto está em domínio público e copiado integralmente aqui. A parte a ser traduzida está destacada em azul:


The Imp of the Perverse
Edgar Allan Poe (1809-1849)

In the consideration of the faculties and impulses – of the prima mobilia of the human soul, the phrenologists have failed to make room for a propensity which, although obviously existing as a radical, primitive, irreducible sentiment, has been equally overlooked by all the moralists who have preceded them. In the pure arrogance of the reason, we have all overlooked it. We have suffered its existence to escape our senses solely through want of belief – of faith; – whether it be faith in Revelation, or faith in the Kabbala. The idea of it has never occurred to us, simply because of its seeming supererogation. We saw no need of the impulse – for the propensity. We could not perceive its necessity. We could not understand, that is to say, we could not have understood, had the notion of this primum mobile ever obtruded itself; – we could not have understood in what manner it might be made to further the objects of humanity, either temporal or eternal. It cannot be denied that phrenology, and in great measure, all metaphysicianism, have been concocted à priori. The intellectual or logical man, rather than the understanding or observant man, set himself to imagine designs – to dictate purposes to God. Having thus fathomed to his satisfaction, the intentions of Jehovah, out of these intentions he built his innumerable systems of mind. In the matter of phrenology, for example, we first determined, naturally enough, that it was the design of the Deity that man should eat. We then assigned to man an organ of alimentiveness, and this organ is the scourge with which the Deity compels man, will-I nill-I, into eating. Secondly, having settled it to be God's will that man should continue his species, we discovered an organ of amativeness, forthwith. And so with combativeness, with ideality, with causality, with constructiveness, – so, in short, with every organ, whether representing a propensity, a moral sentiment, or a faculty of the pure intellect. And in these arrangements of the principia of human action, the Spurzheimites, whether right or wrong, in part, or upon the whole, have but followed, in principle, the footsteps of their predecessors; deducing and establishing everything from the preconceived destiny of man, and upon the ground of the objects of this Creator.

It would have been wiser, it would have been safer to classify, (if classify we must,) upon the basis of what man usually or occasionally did, and was always occasionally doing, rather than upon the basis of what we took it for granted the Deity intended him to do. If we cannot comprehend God in his visible works, how then in his inconceivable thoughts, that call the works into being? If we cannot understand him in his objective creatures, how then in his substantive moods and phases of creation?

Induction, à posteriori, would have brought phrenology to admit, as an innate and primitive principle of human action, a paradoxical something, which we may call perverseness, for want of a more characteristic term. In the sense I intend, it is, in fact, a mobile without motive, a motive not motivirt. Through its promptings we act without comprehensible object; or, if this shall be understood as a contradiction in terms, we may so far modify the proposition as to say, that through its promptings we act, for the reason that we should not. In theory, no reason can be more unreasonable; but, in fact, there is none more strong. With certain minds, under certain conditions, it becomes absolutely irresistible. I am not more certain that I breathe, than that the assurance of the wrong or error of any action is often the one unconquerable force which impels us, and alone impels us to its prosecution. Nor will this overwhelming tendency to do wrong for the wrong's sake, admit of analysis, or resolution into ulterior elements. It is a radical, a primitive impulse – elementary. It will be said, I am aware, that when we persist in acts because we feel we should not persist in them, our conduct is but a modification of that which ordinarily springs from the combativeness of phrenology. But a glance will show the fallacy of this idea. The phrenological combativeness has for its essence, the necessity of self-defence. It is our safeguard against injury. Its principle regards our well-being; and thus the desire to be well, is excited simultaneously with its development. It follows, that the desire to be well must be excited simultaneously with any principle which shall be merely a modification of combativeness, but in the case of that something which I term perverseness, the desire to be well is not only not aroused, but a strongly antagonistical sentiment exists.

An appeal to one's own heart is, after all, the best reply to the sophistry just noticed. No one who trustingly consults and thoroughly questions his own soul, will be disposed to deny the entire radicalness of the propensity in question. It is not more incomprehensible than distinctive. There lives no man who at some period, has not been tormented, for example, by an earnest desire to tantalize a listener by circumlocution. The speaker is aware that he displeases; he has every intention to please; he is usually curt, precise, and clear; the most laconic and luminous language is struggling for utterance upon his tongue; it is only with difficulty that he restrains himself from giving it flow; he dreads and deprecates the anger of him whom he addresses; yet, the thought strikes him, that by certain involutions and parentheses, this anger may be engendered. That single thought is enough. The impulse increases to a wish, the wish to a desire, the desire to an uncontrollable longing, and the longing (to the deep regret and mortification of the speaker, and in defiance of all consequences,) is indulged.

We have a task before us which must be speedily performed. We know that it will be ruinous to make delay. The most important crisis of our life calls, trumpet-tongued, for immediate energy and action. We glow, we are consumed with eagerness to commence the work, with the anticipation of whose glorious result our whole souls are on fire. It must, it shall be undertaken to-day, and yet we put it off until to-morrow; and why? There is no answer, except that we feel perverse, using the word with no comprehension of the principle. To-morrow arrives, and with it a more impatient anxiety to do our duty, but with this very increase of anxiety arrives, also, a nameless, a positively fearful, because unfathomable, craving for delay. This craving gathers strength as the moments fly. The last hour for action is at hand. We tremble with the violence of the conflict within us, – of the definite with the indefinite – of the substance with the shadow. But, if the contest has proceeded thus far, it is the shadow which prevails, – we struggle in vain. The clock strikes, and is the knell of our welfare. At the same time, it is the chanticleer-note to the ghost that has so long over-awed us. It flies – it disappears – we are free. The old energy returns. We will labour now. Alas, it is too late!

We stand upon the brink of a precipice. We peer into the abyss – we grow sick and dizzy. Our first impulse is to shrink from the danger. Unaccountably we remain. By slow degrees our sickness, and dizziness, and horror, become merged in a cloud of unnameable feeling. By gradations, still more imperceptible, this cloud assumes shape, as did the vapor from the bottle out of which arose the genius in the Arabian Nights. But out of this our cloud upon the precipice's edge, there grows into palpability, a shape, far more terrible than any genius, or any demon of a tale, and yet it is but a thought, although a fearful one, and one which chills the very marrow of our bones with the fierceness of the delight of its horror. It is merely the idea of what would be our sensations during the sweeping precipitancy of a fall from such a height. And this fall – this rushing annihilation – for the very reason that it involves that one most ghastly and loathsome of all the most ghastly and loathsome images of death and suffering which have ever presented themselves to our imagination – for this very cause do we now the most vividly desire it. And because our reason violently deters us from the brink, therefore, do we the more impetuously approach it. There is no passion in nature so demoniacally impatient, as that of him, who shuddering upon the edge of a precipice, thus meditates a plunge. To indulge for a moment, in any attempt at thought, is to be inevitably lost; for reflection but urges us to forbear, and therefore it is, I say, that we cannot. If there be no friendly arm to check us, or if we fail in a sudden effort to prostrate ourselves backward from the abyss, we plunge, and are destroyed.

Examine these and similar actions as we will, we shall find them resulting solely from the spirit of the Perverse. We perpetrate them merely because we feel that we should not. Beyond or behind this, there is no intelligible principle. And we might, indeed, deem this perverseness a direct instigation of the Arch-Fiend, were it not occasionally known to operate in furtherance of good.

I have said thus much, that in some measure I may answer your question, that I may explain to you why I am here, that I may assign to you something that shall have at least the faint aspect of a cause for my wearing these fetters, and for my tenanting this cell of the condemned. Had I not been thus prolix, you might either have misunderstood me altogether; or with the rabble, you might have fancied me mad. As it is, you will easily perceive that I am one of the many uncounted victims of the Imp of the Perverse.

It is impossible that any deed could have been wrought with a more thorough deliberation. For weeks, for months, I pondered upon the means of the murder. I rejected a thousand schemes, because their accomplishment involved a chance of detection. At length, in reading some French Memoirs, I found an account of a nearly fatal illness that occurred to Madame Pilau, through the agency of a candle accidentally poisoned. The idea struck my fancy at once. I knew my victim's habit of reading in bed. I knew, too, that his apartment was narrow and ill ventilated. But I need not vex you with impertinent details. I need not describe the easy artifices by which I substituted, in his bed-room candlestand, a wax-light of my own making, for the one which I there found. The next morning he was discovered dead in his bed, and the Coroner's verdict was, ‘Death by the visitation of God’.

Having inherited his estate, all went well with me for years. The idea of detection never once entered my brain. Of the remains of the fatal taper, I had myself carefully disposed. I had left no shadow of a clue by which it would be possible to convict, or even to suspect me of the crime. It is inconceivable how rich a sentiment of satisfaction arose in my bosom as I reflected upon my absolute security. For a very long period of time, I was accustomed to revel in this sentiment. It afforded me more real delight than all the mere worldly advantages accruing from my sin. But there arrived at length an epoch, from which the pleasurable feeling grew, by scarcely perceptible gradations, into a haunting and harassing thought. It harassed because it haunted. I could scarcely get rid of it for an instant. It is quite a common thing to be thus annoyed with the ringing in our ears, or rather in our memories, of the burthen of some ordinary song, or some unimpressive snatches from an opera. Nor will we be the less tormented if the song in itself be good, or the opera air meritorious. In this manner, at last, I would perpetually catch myself pondering upon my security, and repeating, in a low, undertone, the phrase, “I am safe.”

One day, whilst sauntering along the streets, I arrested myself in the act of murmuring, half aloud, these customary syllables. In a fit of petulance, I remodelled them thus: – “I am safe – I am safe – yes – if I be not fool enough to make open confession!”

No sooner had I spoken these words, than I felt an icy chill creep to my heart. I had had some experience in these fits of perversity, whose nature I have been at some trouble to explain, and I remembered well, that in no instance, I had successfully resisted their attacks. And now my own casual self-suggestion, that I might possibly be fool enough to confess the murder of which I had been guilty, confronted me, as if the very ghost of him whom I had murdered – and beckoned me on to death.

At first, I made an effort to shake off this nightmare of the soul. I walked vigorously – faster – still faster – at length I ran. I felt a maddening desire to shriek aloud. Every succeeding wave of thought overwhelmed me with new terror, for, alas! I well, too well understood that, to think, in my situation, was to be lost. I still quickened my pace. I bounded like a madman through the crowded thoroughfares. At length, the populace took the alarm, and pursued me. I felt then the consummation of my fate. Could I have torn out my tongue, I would have done it, but a rough voice resounded in my ears – a rougher grasp seized me by the shoulder. I turned – I gasped for breath. For a moment, I experienced all the pangs of suffocation; I became blind, and deaf, and giddy; and then, some invisible fiend, I thought, struck me with his broad palm upon the back. The long imprisoned secret burst forth from my soul.

They say that I spoke with a distinct enunciation, but with marked emphasis, and passionate hurry, as if in dread of interruption before concluding the brief, but pregnant sentences that consigned me to the hangman, and to hell.

Having related all that was necessary for the fullest judicial conviction, I fell prostrate in a swoon.

But why shall I say more? To-day I wear these chains, and am here! To-morrow I shall be fetterless! – but where?

(Bibliographic Notes: First published in the 1845 July issue of Graham's Lady's And Gentleman's Magazine, and republished, in slightly revised form, in various of Poe's other collections in later years.)


Resultado da experiência:



ORIGINAL

One day, whilst sauntering along the streets, I arrested myself in the act of murmuring, half aloud, these customary syllables. In a fit of petulance, I remodelled them thus: – “I am safe – I am safe – yes – if I be not fool enough to make open confession!”

No sooner had I spoken these words, than I felt an icy chill creep to my heart. I had had some experience in these fits of perversity, whose nature I have been at some trouble to explain, and I remembered well, that in no instance, I had successfully resisted their attacks. And now my own casual self-suggestion, that I might possibly be fool enough to confess the murder of which I had been guilty, confronted me, as if the very ghost of him whom I had murdered – and beckoned me on to death.

At first, I made an effort to shake off this nightmare of the soul. I walked vigorously – faster – still faster – at length I ran. I felt a maddening desire to shriek aloud. Every succeeding wave of thought overwhelmed me with new terror, for, alas! I well, too well understood that, to think, in my situation, was to be lost. I still quickened my pace. I bounded like a madman through the crowded thoroughfares. At length, the populace took the alarm, and pursued me. I felt then the consummation of my fate. Could I have torn out my tongue, I would have done it, but a rough voice resounded in my ears – a rougher grasp seized me by the shoulder. I turned – I gasped for breath. For a moment, I experienced all the pangs of suffocation; I became blind, and deaf, and giddy; and then, some invisible fiend, I thought, struck me with his broad palm upon the back. The long imprisoned secret burst forth from my soul.

They say that I spoke with a distinct enunciation, but with marked emphasis, and passionate hurry, as if in dread of interruption before concluding the brief, but pregnant sentences that consigned me to the hangman, and to hell.

Having related all that was necessary for the fullest judicial conviction, I fell prostrate in a swoon.

But why shall I say more? To-day I wear these chains, and am here! To-morrow I shall be fetterless! – but where?

TRADUÇÕES

Um dia, vagueando pelas ruas, me surpreendi murmurando, meio que em voz alta, estas sílabas habituais.

Num súbito acesso de petulância, as expressei da seguinte maneira: “Estou a salvo... Estou a salvo, sim! Contanto que eu não seja tão tolo de confessar eu mesmo meu caso.”

Mal havia terminado de pronunciar estas palavras, senti um frio glacial insinuar-se até o meu coração.

Já havia adquirido uma certa experiência com estes acessos de perversidade, cuja natureza me esforcei em explicar, e me lembrava bem, que em nenhum caso, nunca, consegui resistir aos seus ataques.

E agora minha própria e casual auto-sugestão, de que eu poderia ser tão tolo de confessar o assassinato do qual tinha sido culpado, enfrentava-me, como se fosse a sombra de quem eu havia assassinado, atraindo-me para a morte.

A princípio, fiz um esforço para livrar minha alma deste pesadelo.

Comecei a caminhar rapidamente, depois mais rápido ainda, sempre mais rápido, finalmente corri.

Sentia uma vontade enlouquecedora de gritar bem alto.

Cada sucessivo vagalhão do meu pensamento me atingia com renovado terror, pois, ai! ...eu entendia bem, muito bem, que, no meu caso, pensar significava estar perdido.

Acelerei ainda mais o meu passo.

Corria como um louco pelas ruas abarrotadas.

Enfim, o populacho alvoroçou-se e correu atrás de mim.

Naquele instante entendi que o meu destino estava traçado.

Se tivesse como arrancar minha língua, eu o teria feito, mas uma voz rude ressoava aos meus ouvidos – uma garra mais rude ainda me aferrava pelo ombro.

Virei-me, ofegante.

Por um instante, experimentei todas as angustias da sufocação;

Fiquei cego, surdo e atordoado; e então, pensei que algum demônio invisível tivesse me golpeado nas costas com a palma enorme da sua mão.

O segredo há tanto tempo contido irrompeu de minha alma.

Dizem que eu falei com perfeita clareza, embora com notável ênfase e uma fúria apaixonada, como se estivesse com medo de ser interrompido antes de terminar o pronunciamento daquelas frases breves mas cheias de grave importância, que me consignaram ao carrasco e ao inferno.

Após ter relatado tudo o que era necessário ao pleno convencimento do juízo, eu caí prostrado, desmaiado.

Que me resta dizer?

Neste dia estou aqui, carregando estas correntes. N’outro-dia, estarei sem os grilhões! Mas onde?

Tradução: Von Kempelen


Um dia, enquanto passeava pelas ruas, me peguei murmurando, meio em voz alta, essas costumeiras silabas. Em um acesso de petulância, as reformulei assim: - “Estou a salvo – Estou a salvo – sim – se não for tolo suficiente para fazer uma confissão aberta!”

Não antes de ter pronunciado essas palavras, senti um arrepio gelado entrando no meu peito. Já tive alguma experiência com esses acessos de perversidade, cuja natureza tenho uma certa dificuldade em explicar, e lembrei bem, que em nenhum momento consegui resistir, com sucesso, aos seus ataques. E agora, a minha própria sugestão casual, de que poderia ser tolo suficiente para confessar o crime do qual sou culpado, confrontou-me, como se fosse o próprio fantasma daquele que matei – e me chamou para a morte.

Inicialmente, fiz um esforço para livrar-me deste pesadelo da alma. Caminhei energicamente – rápido – ainda mais rápido – e finalmente corri. Senti um desejo louco de gritar em voz alta. Cada onda sucessiva de pensamentos me dominava com novo terror, pois, ai de mim! Entendi, até bem demais, que nenhum pensamento, na minha situação, poderia me escapar. Apertei o passo ainda mais. Eu corria feito um louco pelas ruas lotadas. Finalmente o populacho se alarmou e veio me perseguir. Senti então a consumação do meu destino. Poderia ter arrancado minha língua, e o teria feito, mas uma voz tosca ressoava em meus ouvidos – e um aperto ainda mais forte me pegou pelo ombro. Virei-me, – respirei fundo para tomar fôlego. Por um momento, experimentei todas as aflições do sufocamento; fiquei cego, e surdo e tonto; e então, acho eu, um espírito maligno invisível me pegou pelas costas com suas amplas palmas. O segredo por tanto tempo aprisionado explodiu da minha alma.

Dizem que falei com uma manifestação distinta, mas com ênfase marcada, e uma pressa passional, como se com medo de ser interrompido antes de terminar o comunicado, mas com frases sugestivas que me levaram ao carrasco, e ao inferno.

Tendo contado tudo que se fazia necessário para a completa condenação penal, cai prostrado em êxtase.

Mas por que falar mais? Hoje eu uso estas correntes, e estou aqui! Amanha, serei livre! - mas onde?

Tradução: Auguste Dupin


Um dia, passeando, notei que eu repetia para mim mesmo essas palavras, a meia voz. Em um momento de grande impertinência, dei a elas a seguinte forma: "Salvo! Estou a salvo! Estou a salvo, a não ser que eu faça a tolice de confessar!"

Assim que as palavras escaparam da minha boca senti o gelo instilar-se em minhas veias. Eu já vivenciara esses surtos de perversidade, cuja natureza os torna difíceis de explicar, e recordo que em nenhuma instância eu resistira ao assédio. Agora, a sugestão casual de que eu pudesse ser tolo o bastante para confessar o assassinato cometido se insurgia como se fosse o próprio fantasma da vítima – e me acenava com a morte.

A princípio, esforcei-me para afastar esse pesadelo anímico. Pus-me a caminhar com brio – depressa – mais depressa – e logo eu estava correndo. Um desejo louco de gritar me consumia. As ondas do pensamento quebravam uma atrás da outra – todas trazendo consigo um novo terror, pois... ah! Eu bem, muito bem sabia que, na minha circunstância, pensar seria a danação. Contudo, apertei o passo. Eu avançava como um louco em meio à multidão nas ruas. Por fim, a massa compreendeu o alarme e pôs-se a me seguir. Nesse momento senti que meu destino estava selado. Se eu pudesse arrancar minha língua, eu a teria arrancado, mas uma voz ríspida soava em meus ouvidos, e uma garra ainda mais ríspida me pegou pelo ombro. Dei meia volta – eu arquejava. Por um instante, senti todos os sintomas de um sufocamento; fiquei cego, surdo e zonzo; e então, senti como se algum demônio invisível, de mão enorme, me desse um tapa nas costas. O segredo há tempos escondido irrompeu da minha alma.

Dizem que falei de modo especialmente articulado, mas com ênfases claras e uma pressa nervosa, como se temesse alguma interrupção antes de chegar ao fim das breves mas pungentes frases que me conduziram ao patíbulo e ao inferno.

Ao terminar meu relato, que propiciaria a mais completa condenação judicial, caí prostrado, inconsciente.

E para que dizer mais? Hoje trago em mim essas correntes, e estou aqui. Amanhã estarei livre – mas onde?

Tradução: M. Valdemar


Um dia, vagando pelas ruas, eu me peguei no ato de murmurar, meio alto, aquelas sílabas familiares. Num acesso de insolência, eu as reformulei assim:

– Estou seguro – Estou seguro – com certeza – se não for idiota o bastante para fazer uma confissão espontânea!

Mal pronunciara essas palavras, senti um calafrio gélido atingir o meu coração. Já me acontecera de ter esses acessos de perversidade, cuja natureza tenho alguma dificuldade em explicar, e eu me lembrei bem que, em nenhum momento, eu resistira a esses acessos de uma forma bem-sucedida. Agora, a mera auto-sugestão de que eu pudesse talvez ser estúpido o suficiente para confessar o assassinato pelo qual eu era culpado me confrontava, como se fosse o próprio fantasma dele, a quem eu tinha matado – e me conduzisse à morte.

Inicialmente, fiz um esforço para liberar este pesadelo da alma. Caminhei com vigor – mais rápido – cada vez mais rápido – na verdade eu corria. Sentia um desejo louco de gritar alto. Cada onda de pensamento que se sucedia, subjugava-me com um novo terror, pois, ai de mim! Eu, bem que compreendia muito bem, que pensar, na minha situação era estar perdido. Ainda apressava o ritmo. Saltitava feito um louco pelas vias entupidas de gente. Finalmente, as pessoas perceberam o meu sobressalto e começaram a me perseguir. Senti então a consumação do meu destino. Se pudesse arrancar a língua, eu o teria feito, mas uma voz rouca ressoava nos meus ouvidos – um aperto mais forte me pegou pelo ombro. Eu me virei – respirava sofregamente. Por um momento, senti todo o pânico de uma sufocação; fiquei cego, surdo e tonto e, então pensei que algum inimigo invisível me bateu com sua palma larga nas costas. O segredo há muito aprisionado explodiu para fora da minha alma.

Dizem que enunciei as palavras de uma forma bem clara, mas com ênfase bem marcada e pressa apaixonada, como se tivesse medo da interrupção antes de concluir o relato, mas as sentenças sugestivas me condenavam ao carrasco e ao inferno.

Tendo relatado tudo que era necessário para a máxima condenação penal, caí prostrado, desfalecido.

Mas por que eu devo dizer algo mais? Hoje uso estas correntes e estou aqui! Amanhã deverei estar sem os grilhões! – mas onde?

Tradução: Roderick Usher


Um dia, enquanto passeava pelas ruas, detive-me murmurando em voz baixa estas sílabas costumeiras. Em um ajuste de petulância remodelei-as desta maneira: “Estou a salvo – estou a salvo – sim – se eu não for tolo o suficiente de confessar-me abertamente.”

Logo depois de ter proferido estas palavras, senti um calafrio deslizar até o coração. Tenho tido alguma experiência em relação a estes ataques de perversidade cuja natureza eu tive algumas dificuldades em explicar, lembrei bem que em momento algum resisti a estes ataques, com sucesso. E agora, o meu próprio auto-sugestionamento casual, que eu possivelmente possa ser tolo o suficiente para confessar o assassinato do qual fui culpado, confrontou-me como se o próprio fantasma daquele que eu havia assassinado – que me acenou à morte.

Inicialmente, fiz um esforço em livrar-me deste pesadelo da alma. Caminhei vigorosamente – mais rápido – ainda mais rápido – finalmente eu corri. Senti um desejo enlouquecido de gritar em voz alta. Cada onda de pensamento que sucedia inundava-me com novo terror, ai, ai de mim! Entendi bem, até bem demais, que pensar em minha situação era estar perdido. Ainda apressei os meus passos. Saltava feito um louco através da via cheia. Finalmente, o povo tocou o alarme e me perseguiu. Percebi então a perfeição do meu destino. Poderia eu ter arrancado a minha língua eu o teria feito, mas uma voz grossa ressoava em meus ouvidos – um aperto mais rude dominou-me pelo ombro. Eu girei. Eu arfava por respiração. Por um momento experimentei todas as sensações da asfixia; tornei-me cego, surdo e vertiginoso; e então algum demônio invisível, eu pensei, golpeou-me com sua larga palma, as costas. O segredo há muito tempo encarcerado explodiu para fora da minha alma.

Dizem que eu discursei com distinto pronunciamento, mas com assinalada ênfase e veemente pressa, como no temor da interrupção antes da conclusão do depoimento, com sentenças abundantes que me transferiram à forca, e ao inferno.

Tendo relatado tudo que foi necessário para a completa condenação judicial, desmaiei prosternado.

Mas porque eu deveria dizer mais? Hoje uso estas correntes e estou aqui! Amanhã estarei livre das correntes! – mas onde?

Tradução: Pierre Bon-Bon


Um dia, enquanto passeava pelas ruas, me surpreendi a murmurar à meia-voz essas sílabas familiares. Em um assomo de petulância, eu as reformulei assim: – “Estou seguro – estou seguro – sim – se eu não for bastante louco para fazer uma confissão pública!”

Mal pronunciei essas palavras, senti um calafrio gelado invadir meu coração. Eu tinha alguma experiência com esses ímpetos de perversidade cuja natureza me era difícil de explicar e, eu me lembrava muito bem, em nenhuma circunstância eu havia conseguido resistir aos seus ataques. Já agora, a minha própria sugestão casualmente proferida, de que eu poderia eventualmente ser louco o bastante para confessar o homicídio de que eu era culpado, me afrontava como se fosse o próprio espírito daquele que eu havia assassinado – e me acenava com a morte.

Primeiro, fiz um esforço para me livrar desse pesadelo da alma. Eu dei passadas vigorosas – mais rápidas – apertei mais ainda o passo – finalmente, corri. Senti um desejo louco de gritar bem alto. Cada onda sucessiva de pensamentos me sufocou com novo terror, porque, ai de mim! eu sabia muito bem, bem demais, que pensar, na minha situação, significava estar perdido. Continuei a acelerar o passo. Como um louco, corri aos trancos pelas ruas apinhadas. A certa altura, o populacho se alertou e me perseguiu. Foi então que senti o meu destino se consumar. Se eu pudesse ter arrancado a minha língua, eu o teria feito, mas uma voz bruta ressoou no meu ouvido – uma mão mais bruta ainda me agarrou pelo ombro. Eu me virei – arquejei buscando ar. Por um momento, experimentei todas as agonias da sufocação; fiquei cego e surdo e tonto; e então, penso que algum demônio invisível bateu com a mão espalmada nas minhas costas. O segredo tão longamente guardado irrompeu da minha alma.

Dizem que falei de forma nítida, mas com ênfase marcada e pressa exaltada, como se eu temesse ser interrompido antes de concluir as sentenças curtas mas significativas que me entregaram ao carrasco, e ao inferno.

Tendo relatado tudo que era necessário para uma condenação judicial completa, tombei, prostrado, num desmaio.

Mas por que dizer mais? Hoje, carrego essas correntes e estou aqui! Amanhã, estarei livre das cadeias! – mas onde?

Tradução: Dr. Tarr


Um dia, enquanto perambulava pelas ruas, peguei-me no ato de murmurar, à meia voz, estas sílabas costumeiras. Num ataque de petulância, eu as remodelei assim: - “Estou seguro – estou seguro – sim – se eu não for bobo o bastante para fazer uma confissão aberta!”

Mal acabei de falar estas palavras, senti um arrepio gelado tomar conta do meu coração. Eu tinha tido alguma experiência com estes acessos de perversidade, cuja natureza eu não conseguia explicar, e me lembrava bem que, em nenhuma ocasião, eu tinha resistido com sucesso a seus ataques. E agora minha própria auto-sugestão descuidada de que eu poderia possivelmente ser bobo o bastante para confessar o assassinato do qual eu era culpado me confrontava, como se fosse o próprio fantasma de quem eu havia assassinado - e me atraía para a morte.

A princípio, fiz um esforço para escapar deste pesadelo da alma. Caminhei vigorosamente – mais rápido – ainda mais rápido – e finalmente corri. Eu sentia um desejo enlouquecedor de gritar. Cada subseqüente onda de pensamentos me inundava com terror renovado, que desgraça! Eu entendia muito bem que pensar, na minha situação, significava estar perdido. Ainda apressei o passo. Avancei como um louco através dos passeios públicos cheios de gente. Até que o povo se alarmou e me perseguiu. Eu senti, então, a consumação do meu destino. Se eu pudesse arrancar fora a minha língua, eu o teria feito, mas uma voz brusca ressoou em meus ouvidos - e um safanão ainda mais brusco em meu ombro me imobilizou. Eu me voltei, ofegante. Por um momento, senti toda a agonia da sufocação; tornei-me cego, surdo e tonto; e então algum demônio invisível, eu pensei, me golpeou pelas costas com sua mão imensa. O segredo tão longamente aprisionado transbordou do fundo da alma.

Dizem que falei com um enunciado distinto, mas com ênfase manifesta e pressa apaixonada, como se temesse interrupção antes de concluir as sentenças breves, porém plenas de significado, que me entregaram ao carrasco e ao inferno.

Tendo relatado tudo que era necessário para uma total condenação legal, eu caí prostrado em um desmaio.

Mas por que devo dizer mais? Hoje estou acorrentado, e estou aqui! Amanhã estarei livre! –mas onde?

Tradução: Fortunato


quarta-feira, 23 de maio de 2007

"Devil's Dictionary", de Ambrose Bierce

* * * Post modificado * * *

Experiência de tradução inglês-português encerrada.
Coordenadora: Ernesta.

Mais informações sobre o autor e a obra (em domínio público):
http://www.online-literature.com/bierce/devilsdictionary/
http://www.gutenberg.org/etext/972
http://www.thedevilsdictionary.com/

Acompanhe a discussão desta experiência no tópico da nossa comunidade:
http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=50302&tid=2527390955783993828&na=4&nst=367&nid=50302-2527390955783993828-2533809827357526019

ORIGINAL



LEXICOGRAPHER, n. A pestilent fellow who, under the pretense of recording some particular stage in the development of a language, does what he can to arrest its growth, stiffen its flexibility and mechanize its methods. For your lexicographer, having written his dictionary, comes to be considered "as one having authority," whereas his function is only to make a record, not to give a law. The natural servility of the human understanding having invested him with judicial power, surrenders its right of reason and submits itself to a chronicle as if it were a statute. Let the dictionary (for example) mark a good word as "obsolete" or "obsolescent" and few men thereafter venture to use it, whatever their need of it and however desirable its restoration to favor -- whereby the process of impoverishment is accelerated and speech decays. On the contrary, recognizing the truth that language must grow by innovation if it grow at all, makes new words and uses the old in an unfamiliar sense, has no following and is tartly reminded that "it isn't in the dictionary" -- although down to the time of the first lexicographer (Heaven forgive him!) no author ever had used a word that was in the dictionary. In the golden prime and high noon of English speech; when from the lips of the great Elizabethans fell words that made their own meaning and carried it in their very sound; when a Shakespeare and a Bacon were possible, and the language now rapidly perishing at one end and slowly renewed at the other was in vigorous growth and hardy preservation -- sweeter than honey and stronger than a lion -- the lexicographer was a person unknown, the dictionary a creation which his Creator had not created him to create.

TRADUÇÕES



Lexicógrafo, s.m. Um sujeito pestilento, que sob a pretenção de registrar alguma fase específica do desenvolvimento de uma língua, faz o que pode para embargar o seu crescimento, enrijecendo sua flexibilidade e mecanizando seus métodos. Pois o seu lexicógrafo, tendo escrito seu dicionário, passa a ser considerado “uma autoridade”, quando na verdade sua função é apenas registrar, e não criar leis. A servidão natural do entendimento humano tendo lhe dado poder judicial, abre mão de seus direitos à razão e se submete a uma crônica como se fosse um estatuto. Basta o dicionário (por exemplo) marcar uma palavra boa como “obsoleta” ou “obsolecente” e daí em diante poucos indivíduos se arriscam a usa-la, não importa o quanto necessitem dela ou o quão desejavel seja a restauração do seu favoritismo – de forma que o processo de empobrecimento é acelerado e o discurso entra em decadência. Ao contrário, reconhecendo a verdade de que uma língua, se for mesmo crescer, deve faze-lo através da inovação, [quem] cria novas palavras e usa palavras antigas em sentidos inesperados, não angaria seguidores e é rudemente lembrado que “isso não está no dicionário” – apesar de até o surgimento do primeiro lexicógrafo (Que os céus o perdoem!) nenhum autor jamais havia usado uma palavra que estava no dicionário. Nos primórdios dourados e no ápice da língua Inglesa; quando dos lábios dos Elizabetanos trasnbordavam palavras que faziam seus próprio sentido e levavam consigo seu próprio som; quando um Shakespeare ou um Bacon eram possíveis, e a língua ora decaindo rapidamente de um lado e se renovando lentamente do outro estava em vigorosa evolução e forte preservação – mais doce do que o mel e mais poderosa que um leão – o lexicógrafo era uma pessoa desconhecida, o dicionário uma criação que o seu Criador não o havia criado para criar.

Agata



Dicionarista, S, 2 g. Um sujeito pestilento que, sob o pretexto de registrar um determinado estágio no desenvolvimento de uma linguagem, faz o que pode para aprisionar seu crescimento, endurecer sua flexibilidade e mecanizar seus métodos.
Pois o tal dicionarista, tendo escrito o dicionário dele, passa a ser considerado ‘uma autoridade’, enquanto sua função é somente fazer um registro, e não ditar uma lei.
A natural subserviência do entendimento humano, tendo concedido poder de lei ao dicionarista, entrega a ele o seu direito de razão e se submete a uma crônica como se esta fosse um estatuto.
Basta que o dicionário (por exemplo) rotule uma boa palavra como obsoleta ou arcaica para que, a partir daí, poucos homens se atrevam a usá-la, não importa o quanto precisem dela nem quão desejável seja sua manutenção - e assim o processo de empobrecimento se acelera e a língua entra em decadência.
Por outro lado, aquele que reconhece que a língua deve crescer pela originalidade, se de algum modo cresce, aquele que cria novas palavras e usa as antigas com um sentido inédito não tem seguidores e é rispidamente lembrado de que “isto não está no dicionário” - mesmo se no tempo do primeiro dicionarista (que Deus o perdoe!) nenhum autor jamais havia usado uma palavra que estava no dicionário.
No dourado apogeu da língua inglesa; quando dos lábios dos grandes elisabetanos saíam palavras que construíam seu próprio sentido e o carregavam na própria sonoridade; quando um Shakespeare e um Bacon eram possíveis, e a linguagem, agora rapidamente se congelando em uma ponta e lentamente se renovando na outra, estava em processo de vigoroso crescimento e duradoura conservação – mais doce que mel e mais forte que um leão – o dicionarista era uma pessoa desconhecida, e o dicionário uma criação que o Criador não o tinha criado para criar.

Irene



LEXICÓGRAFO, s. Indivíduo pernicioso que, com a desculpa de registrar um estágio específico do desenvolvimento de uma língua, faz o que pode para coibir seu crescimento, diminuir sua flexibilidade e mecanizar seus métodos. Para este lexicógrafo, escrever seu dicionário equivale a ser considerado como “aquele que tem autoridade”, enquanto que sua função é apenas fazer um registro, não criar uma lei. A servidão natural da compreensão humana, tendo-o investido com poder legal, abdica de seus direitos de razão e se submete a uma crônica como se ela fosse um estatuto. Permite que o dicionário (por exemplo) marque uma boa palavra como “obsoleta” ou “obsolescente” e poucos homens, depois disso, arriscam-se a usá-la, apesar de sua necessidade e do desejo de sua restauração à preferência – e assim o processo de empobrecimento se acelera e o discurso decai. Ao contrário, reconhecendo o fato de que a língua deve crescer pela inovação, se é que cresce, cria palavras novas e usa as antigas em um sentido pouco comum, não tem apoio e é sarcasticamente lembrado de que “não está no dicionário” – embora, à época do primeiro lexicógrafo (que Deus o perdoe!), nenhum autor houvesse usado uma palavra que /estivesse /no dicionário. Nos tempos áureos e no ponto máximo da língua inglesa, quando dos lábios dos grandes elizabetanos fluíam palavras que faziam seu próprio significado e o carregavam em seu próprio som, quando Shakespeare e Bacon eram possíveis; e a línga, agora, perecendo rapidamente de um lado e lentamente renovada de outro, estava em crescimento vigoroso e brava preservação – mais doce que o mel e mais forte que um leão – o lexicógrafo era uma pessoa desconhecida, o dicionário uma criação que seu Criador não o criou para criar.

Rosalia



LEXICÓGRAFO s.m. Camarada pestilento que, sob o pretexto de registrar um determinado estágio do desenvolvimento de um idioma, faz o que pode para frear o seu crescimento, enrijecer a sua flexibilidade e mecanizar os seus métodos. Pois o lexicógrafo, tendo escrito o seu dicionário, passa a ser considerado “alguém que tem autoridade”, embora a sua função seja apenas fazer um registro e não estabelecer uma lei. Tendo-o investido de poder judicioso, o servilismo natural do entendimento humano renuncia ao seu direito de razão e submete-se a um registro como se este fosse um estatuto. Basta um dicionário (por exemplo) marcar uma palavra boa como "obsoleta" ou "obsolescente" e poucos homens, daí em diante, aventurar-se-ão a usá-la, qualquer que seja a sua necessidade dela e por mais desejável que seja defender a sua restauração – e, dessa maneira, o processo de empobrecimento é acelerado e o discurso deteriora-se. Ao contrário, se, ao reconhecer a verdade de que o idioma precisa crescer por inovação para que tenha algum crescimento, alguém cria novas palavras e usa as antigas em sentido incomum, não encontra seguidores e é sarcasticamente lembrado de que “isso não está no dicionário” – ainda que, até a época do primeiro lexicógrafo (que os céus o perdoem!), nenhum autor jamais tivesse usado uma palavra que estivesse no dicionário. Nos tempos áureos e de apogeu da língua inglesa, quando dos lábios dos grandes elisabetanos caíam palavras que produziam o seu próprio sentido e o carregavam em seu próprio som, quando um Shakespeare e um Bacon eram possíveis e o idioma que perecia rapidamente de um lado e era lentamente renovado do outro estava em vigoroso crescimento e robusta preservação – mais doce que o mel e mais forte que um leão --, o lexicógrafo era uma pessoa desconhecida, o dicionário uma criação que o seu Criador não o criara para criar.

Concetta



LEXICÓGRAFO, s.m. Um sujeito pestilento que, sob o pretexto de registrar uma determinada etapa do desenvolvimento de um idioma, faz tudo que pode para impedir seu crescimento, enrijecer sua flexibilidade e mecanizar seus métodos. Após terminar seu dicionário, esse tal lexicógrafo chega a ser considerado "como alguém que possui autoridade", quando a função dele se limita a fazer um registro, não a estabelecer uma lei. Ao investi-lo do poder de julgar, a subserviência natural da inteligência humana renuncia a seu direito de raciocinar e se submete a uma crônica como se fosse um estatuto. Por exemplo, basta que o dicionário assinale uma boa palavra como "obsoleta" ou "obsolescente" e serão poucos os que, depois disso, se atreverão a usá-la, ainda que necessitem dela e por mais que seja desejável recuperar seu uso – com o que o processo de empobrecimento é acelerado e a língua decai. Pelo contrário; reconhecer a verdade que a língua só pode crescer através da inovação, formando novas palavras e usando as antigas com um novo sentido, não tem seguimento e é atalhado por um "não está no dicionário" – apesar de que, na época em que surgiu o primeiro lexicógrafo (que Deus o perdoe!), nenhum autor jamais usara uma só palavra que estivesse em dicionário. Nos áureos tempos e no ápice da língua inglesa, quando os lábios dos elisabetanos proferiam palavras que traziam em si o seu próprio sentido, portando-o até mesmo no som; quando um Shakespeare e um Bacon eram possíveis e a língua rapidamente perecia por um lado e lentamente se renovava por outro, em crescimento vigoroso e resoluta preservação – mais doce que o mel e mais forte que o leão – o lexicógrafo era pessoa desconhecida e o dicionário uma criação que o seu Criador não o tinha criado para criar.

Carmela



LEXICÓGRAFO, s.m. Um sujeito pernicioso que, sob o pretexto de registrar algum estágio particular do desenvolvimento de um idioma, faz o possível para deter o seu crescimento, imobilizar a sua flexibilidade e mecanizar os seus métodos. Para o seu lexicógrafo, ter escrito o seu dicionário o transforma em “alguém que detém a autoridade”, embora a sua função seja meramente registrar e não impor uma lei. O servilismo natural da compreensão humana, tendo outorgado a ele esse poder jurídico, cede o seu direito à razão e se submete ao registro como se ele fosse um estatuto. Deixe o dicionário (por exemplo) registrar um bom vocábulo como “obsoleto” ou “em vias de se tornar obsoleto” e raros indivíduos se aventurarão a utilizá-lo a partir desse momento por mais que precisem dele, e por mais que sejam a favor da restauração de seu uso – dessa forma, o processo de empobrecimento se acelera e o discurso se deteriora. Ao contrário, o reconhecimento da verdade que o idioma deva crescer pela inovação, se é que cresce mesmo, criando palavras novas e utilizando as antigas em um sentido não tão familiar não é seguido e chama-se a atenção secamente relembrando que “não está registrado no dicionário” – embora retornando ao tempo do primeiro lexicógrafo (Que Deus o perdoe!), nenhum autor jamais tenha utilizado a palavra que estivesse no dicionário. Na era de ouro e no auge do discurso inglês; quando dos lábios dos grandes contemporâneos da rainha Elizabeth I caíam palavras que carregavam seu próprio sentido e o conduziam ao seu exato som, quando um Shakespeare ou um Bacon eram plausíveis e a língua – que, por um lado, agora fenece tão rapidamente, e, de outro, renova-se tão lentamente - estava em crescimento vigoroso e em empedernida preservação – mais doce que o mel e mais forte que um leão – o lexicógrafo era uma pessoa desconhecida; o dicionário, uma criação cujo Criador não o tinha criado para criar.

Rosa



LEXICÓGRAFO, s.m. Sujeito pestilento que, sob o pretexto de registrar determinado estágio do desenvolvimento de uma língua, faz todo o possível para impedir o crescimento, enrijecer a flexibilidade e mecanizar os métodos desta. Tendo escrito o dicionário, nosso lexicógrafo passa a ser considerado como “alguém com autoridade”, ainda que sua função seja fazer um registro e não ditar uma lei. Uma vez que a compreensão humana, naturalmente subserviente, o investe de poder legal, ela abre mão de seu direito ao raciocínio e se submete a uma narrativa como se esta fosse um estatuto. Basta o dicionário rotular (por exemplo) uma palavra útil como “obsoleta” ou “obsolescente” e poucos serão aqueles que, a partir de então, ousarão utilizá-la, ainda que precisem dela e mesmo que sua restauração seja algo desejável. Dessa forma, o processo de empobrecimento se acelera e o discurso definha. Já a atitude contrária de reconhecer que na verdade a língua só poderá crescer através da inovação, criando novas palavras e empregando as antigas em sentidos não usuais, não produz adeptos e recebe a ríspida resposta de que “não está no dicionário” – ainda que, até que surgisse o primeiro lexicógrafo (que Deus o perdoe!), nenhum autor tinha usado uma palavra que estivesse no dicionário. Na era dourada da língua inglesa, quando os lábios dos grandes elisabetanos articulavam palavras capazes de criar seu próprio significado e carregar sua própria sonoridade, quando era possível a existência de um Shakespeare e um Bacon, e quando a língua que hoje perece rapidamente de um lado e é renovada lentamente do outro florescia e se conservava com vigor e garra – mais doce do que o mel e mais forte que um leão –, o lexicógrafo era um ser desconhecido e, o dicionário, uma criação que seu Criador ainda não havia dado a criação de criar.

Emma



LEXICÓGRAFO, s.m. Um sujeito pestilento que, sob o pretexto de registrar determinado estágio de desenvolvimento de um idioma, faz o possível para interromper seu progresso, endurecer sua flexibilidade e automatizar seus métodos. Pois o tal lexicógrafo, após escrever seu próprio dicionário, passa a ser considerado "uma autoridade", apesar de sua função ser meramente a de produzir um registro e não a de ditar leis. No entanto, o natural servilismo da compreensão humana, uma vez tendo-o investido de poder judicial, entrega a ele seu direito de raciocinar e se submete a uma crônica como se fosse um estatuto. Basta que o dicionário (por exemplo) classifique uma boa palavra como "obsoleta" ou "em desuso" e poucos se arriscarão a usá-la depois disso, a despeito de que precisem dela e do quão desejável seja seu retorno ao favor geral — motivo pelo qual o processo de empobrecimento se acelera e a língua se deteriora. Ao contrário, o reconhecimento de que a linguagem deva crescer através da inovação, se de algum modo, e que produz novas palavras e utiliza as antigas dando-lhes significados desconhecidos não conta com muitos seguidores e é acidamente lembrado de que "não está no dicionário" — embora, lá pela época do primeiro lexicógrafo (que Deus o perdoe!), escritor algum jamais tivesse usado uma palavra que "estivesse" no dicionário. Nos primeiros tempos dourados e no pináculo da glória da língua inglesa, quando dos lábios dos grandes elisabetanos manavam palavras que criavam seu próprio significado e o carregavam em seu próprio som, quando um Shakespeare e um Bacon eram permitidos e a linguagem, que hoje tão rapidamente se extingue num extremo e tão lentamente se renova no outro, encontrava-se em vigoroso crescimento e em forte preservação — mais doce que o mel e mais forte que o leão —, o lexicógrafo era um personagem desconhecido e o dicionário, uma criação para a qual seu Criador ainda não o havia criado para que criasse.

Caterina